Estive poucas horas em Dakar. Apenas o tempo de sair do aeroporto, a altas horas da madrugada, ir até ao hotel, acordar e passear um pouco durante a manhã e início de tarde. Depois, Bissau esperava. Foi o meu primeiro contacto com o solo africano, estávamos em Novembro de 2006.
À saída do aeroporto Leopold Senghor, apesar da hora tardia, estava uma multidão de pessoas que se acotovelava a ver quem chegava. Não tive problemas com as malas, ao contrário do que me aconteceu já noutras paragens, tudo correu com normalidade e rapidamente encontramos o nosso contacto naquela cidade. Sim, nosso, já que não estava sozinho. Eu, e mais três pessoas que acabava de conhecer no aeroporto de Lisboa, a Verónica, a Sofia e o Bruno, viajávamos com um mesmo destino, a Guiné-Bissau onde iríamos trabalhar no mesmo projecto. O nosso contacto, peço desculpa mas não me recordo agora do nome, lá estava para nos levar até ao hotel. A meio do caminho foi inevitável pensar que nos poderíamos ter enganado. Não o conhecíamos, sabíamos apenas que alguém nos iria procurar e que esse alguém tinha um nome que estava escrito num papel que nos deram. Ao atravessar um descampado bastante escuro olhávamos uns para os outros e penso que chegámos a comentar qualquer coisa a esse respeito. Falso alarme, mas natural para quem está pela primeira vez em contacto com uma cultura acerca da qual nos contam tantas mentiras. O homem foi impecável e lá nos deixou no hotel, mostrando-se sempre muito prestável. Combinou uma hora para nos levar de regresso ao aeroporto no dia seguinte e partiu.
Tinha sede, estava morto de sede e o bar do hotel já estava fechado. Alguém na recepção me disse que podia arranjar uma garrafa de água. À confiança lá lhe dei dois euros, dinheiro que antecipadamente pediu. Perdi a hipótese de regatear pela primeira vez, coisa que me habituei a fazer mais tarde. De qualquer forma, estava mesmo com sede e não me pareceu descabido pagar dois euros por uma garrafa de água às quatro da manhã, num país onde não conhecia ninguém e onde, nas imediações do hotel, tudo parecia estar fechado. Demorou, mas regressou com a água, quando eu já temia passar a noite com a garganta seca.
Saí para a varanda. Cheirava a mar mas, na escuridão, não sabia bem onde é que o mar estava. Na manhã seguinte percebi que estava mesmo à frente dos meus olhos. Tive dificuldade em dormir. Sentia-me bem, tranquilo, mas com uma enorme vontade de captar tudo aquilo que estava a acontecer tão depressa. Com os cinco sentidos bem abertos, tentava captar tudo à minha volta, os sons, os odores, os objectos… vá, esqueçam o tacto e o paladar. Não se pode ter tudo na mesma noite. Dos paladares terei oportunidade de falar noutras ocasiões. Do tacto, não estão há espera que eu descreva a textura das palmeiras ou daquilo que vocês estão a pensar, pois não?
Fiquei alguns minutos na varanda a saborear o bafo quente e húmido que pairava sobre a cidade. Recolhi ao quarto e, embora não me recorde, devo ter sonhado com o céu dos viajantes, aquele onde o limite para o que se quer descobrir é tão distante quanto a linha do horizonte. Por mais que dela nos aproximemos, haverá mais e mais para descobrir sem nunca a alcançar. Talvez seja por isso que eu nunca esteja bem aonde estou, como diz a canção do Variações. Ainda bem. No dia em que eu sentir que não há mais nada a conhecer, que não há mais nada a alcançar, esvai-se o sentido da vida, fecho os olhos e vou explorar o etéreo lugar.
(continua)
No próximo post falarei do meu passeio por Dakar, mostrarei algumas fotos e vou-lhes contar como quase atropelávamos uma cabra. Voltem, sim eu quero que voltem, mas não fiquem por aí pregados ao monitor. Há um mundo fabuloso lá fora.
Boas viagens.
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