quinta-feira, 28 de maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Uma escola na Guiné-Bissau (Liceu Dr. Agostinho Neto).

Frequentemente me perguntam como era a escola onde trabalhei na Guiné-Bissau. Descrever uma escola, na Guiné ou em qualquer parte do mundo, não é fácil se a entendermos enquanto instituição e não apenas como um edifício onde interagem professores, alunos e funcionários. Uma escola é muito mais que isso. Um dia tentarei falar mais detalhadamente acerca do tema. Hoje deixo apenas umas imagens, uma mera descrição visual da escola onde trabalhei naquele país africano, sabendo que, pelo menos neste caso, uma imagem não vale pelas mil e uma palavras que se poderiam escrever acerca do trabalho ali desenvolvido por guineenses e portugueses, que em conjunto, dia após dia, procuram construir um amanhã melhor para aqueles jovens. Um abraço especial aos professores guineenses e professores portugueses do PASEG com quem tive a oportunidade de trabalhar. Um abraço igualmente forte a todos aqueles que lá trabalham ou trabalharam sem que eu tenha tido a oportunidade de os conhecer e a todos aqueles que, de alguma forma, se empenham para melhorar a educação nos quatro cantos do mundo, por vezes mal pagos, explorados, mas conscientes de que o seu trabalho pode fazer vir a fazer a diferença amanhã.

Boas viagens.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Dakar, a primeira vez em África (2ª parte)

Nanga Def ("como estás" em wolof)



Amanheceu. Da varanda do hotel via-se o mar. Fome, estava com muita fome e vontade de conhecer. Como combinado lá me encontrei com os três companheiros de viagem e descemos para o pequeno almoço. Deveriam ser quase dez horas e nas mesas já não havia muito mais que sumo, café, pão e manteiga. Não tirem falsas conclusões acerca dos pequenos almoços no Senegal, este foi assim, mas por culpa nossa que nos deixámos dormir.


Passeamos pelo jardim do hotel que dava para uma pequena praia muito agradável. Lembro-me de molhar os pés numa água morna, tão agradável que ponderei ir buscar os calções de banho. Depois, pensamos melhor e decidimo-nos por um plano alternativo e ainda bem que o fizemos. Um passeio por Dakar.


Tinhamos pouco tempo, julgo que cerca de duas a três horas, até que nos viessem buscar para nos levar ao aeroporto. Na recepção do hotel disseram-nos que podiamos negociar com um dos taxistas na entrada, não estavamos propriamente no centro da cidade, e que ele nos levaria a dar uma volta. Não me recordo do preço que pagamos, mas valeu a pena. O primeiro contacto com o caos urbano, a terra vermelha, os mercados de rua e... agora sim a história da cabra. Bom, a cabra é que se meteu no caminho e como o taxista olhava para o lado a fim de nos explicar o que se passava em cada esquina das ruas que cruzávamos, lá demos um pequeno toque no animal. Nada de mais, alguma discussão, julgo que em wolof, por isso não percebemos nada e siga viagem. Não vou escrever muito acerca do que vi, para tal deixo um vídeo com um conjunto de fotos da breve visita.


O som é dos Blasted Mechanism. Não sei se eles me autorizam a utilizar a música. Como me parecem uns gajos porreiros não devem levar a mal. Havendo problema digam que eu retiro. Não a estou a utilizar com fins comerciais ;)

Boas viagens.

Dakar, a primeira vez em África (1ª parte)

Estive poucas horas em Dakar. Apenas o tempo de sair do aeroporto, a altas horas da madrugada, ir até ao hotel, acordar e passear um pouco durante a manhã e início de tarde. Depois, Bissau esperava. Foi o meu primeiro contacto com o solo africano, estávamos em Novembro de 2006.

À saída do aeroporto Leopold Senghor, apesar da hora tardia, estava uma multidão de pessoas que se acotovelava a ver quem chegava. Não tive problemas com as malas, ao contrário do que me aconteceu já noutras paragens, tudo correu com normalidade e rapidamente encontramos o nosso contacto naquela cidade. Sim, nosso, já que não estava sozinho. Eu, e mais três pessoas que acabava de conhecer no aeroporto de Lisboa, a Verónica, a Sofia e o Bruno, viajávamos com um mesmo destino, a Guiné-Bissau onde iríamos trabalhar no mesmo projecto. O nosso contacto, peço desculpa mas não me recordo agora do nome, lá estava para nos levar até ao hotel. A meio do caminho foi inevitável pensar que nos poderíamos ter enganado. Não o conhecíamos, sabíamos apenas que alguém nos iria procurar e que esse alguém tinha um nome que estava escrito num papel que nos deram. Ao atravessar um descampado bastante escuro olhávamos uns para os outros e penso que chegámos a comentar qualquer coisa a esse respeito. Falso alarme, mas natural para quem está pela primeira vez em contacto com uma cultura acerca da qual nos contam tantas mentiras. O homem foi impecável e lá nos deixou no hotel, mostrando-se sempre muito prestável. Combinou uma hora para nos levar de regresso ao aeroporto no dia seguinte e partiu.

Tinha sede, estava morto de sede e o bar do hotel já estava fechado. Alguém na recepção me disse que podia arranjar uma garrafa de água. À confiança lá lhe dei dois euros, dinheiro que antecipadamente pediu. Perdi a hipótese de regatear pela primeira vez, coisa que me habituei a fazer mais tarde. De qualquer forma, estava mesmo com sede e não me pareceu descabido pagar dois euros por uma garrafa de água às quatro da manhã, num país onde não conhecia ninguém e onde, nas imediações do hotel, tudo parecia estar fechado. Demorou, mas regressou com a água, quando eu já temia passar a noite com a garganta seca.

Saí para a varanda. Cheirava a mar mas, na escuridão, não sabia bem onde é que o mar estava. Na manhã seguinte percebi que estava mesmo à frente dos meus olhos. Tive dificuldade em dormir. Sentia-me bem, tranquilo, mas com uma enorme vontade de captar tudo aquilo que estava a acontecer tão depressa. Com os cinco sentidos bem abertos, tentava captar tudo à minha volta, os sons, os odores, os objectos… vá, esqueçam o tacto e o paladar. Não se pode ter tudo na mesma noite. Dos paladares terei oportunidade de falar noutras ocasiões. Do tacto, não estão há espera que eu descreva a textura das palmeiras ou daquilo que vocês estão a pensar, pois não?

Fiquei alguns minutos na varanda a saborear o bafo quente e húmido que pairava sobre a cidade. Recolhi ao quarto e, embora não me recorde, devo ter sonhado com o céu dos viajantes, aquele onde o limite para o que se quer descobrir é tão distante quanto a linha do horizonte. Por mais que dela nos aproximemos, haverá mais e mais para descobrir sem nunca a alcançar. Talvez seja por isso que eu nunca esteja bem aonde estou, como diz a canção do Variações. Ainda bem. No dia em que eu sentir que não há mais nada a conhecer, que não há mais nada a alcançar, esvai-se o sentido da vida, fecho os olhos e vou explorar o etéreo lugar.

(continua)

No próximo post falarei do meu passeio por Dakar, mostrarei algumas fotos e vou-lhes contar como quase atropelávamos uma cabra. Voltem, sim eu quero que voltem, mas não fiquem por aí pregados ao monitor. Há um mundo fabuloso lá fora.

Boas viagens.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Jangada de S. Vicente - Guiné-Bissau

Onde hoje existe uma ponte à espera de ser inaugurada, existia um lugar mágico, onde mora uma das minhas recordações mais africanas de África. Ali era África com toda a certeza. Chegava-se cedo para atravessar o rio na primeira jangada, um velho ferry ferrugento mas belo como só o podem ser as coisas que ainda antes de as termos visto já habitam o nosso imaginário. Era assim que se atravessava o rio. Penso que ainda é mas apenas por breves dias até que a ponte entre ao serviço.

A ponte é importante, vai encurtar distâncias entre Bissau e o Norte da Guiné, entre Bissau e a região de Casamance, no Senegal. Varela, Ziguinchor, Cap Skirring, Banjul (Gâmbia) e até mesmo Dakar (bem mais a Norte), ficarão mais perto. Não vai ser mais necessário esperar, por vezes horas, para atravessar o rio. Reconhecendo a importância que a ponte terá para o futuro da Guiné, ainda assim guardarei com alguma nostalgia aquele lugar que me proporcionou quadros, imagens, que jamais irei esquecer.

Até sempre jangada de S. Vicente.

Seja bem-vinda a nova ponte que, ao que parece, ainda não tem nome bem definido, já que a sua escolha tem sido polémica.

Aqui fica um pequeno filme que fiz há uns tempos do local e da travessia, numa das vezes que por lá passei. Para recordar ou para ficar a conhecer.